sábado, 3 de fevereiro de 2018

Abril


escuto o som da motosserra elétrica
que o meu peito serra
escudo de osso que a serra serra
e faz barulho.

pó no ar

devia eu escutar essa lâmina dentada
que ausculta meu coração?
minhas costas coçam mas como
irei coçá-las?

jesus na cruz

atadas as minhas mãos estão
vejo o sangue que entra e sai
a serra ausculta e vasculha
a alma dói

tudo preto

algo tilinta dentro, eles colocam
minhas costelas no lugar
algo brilha dentro e não
são os arames

escuto um vulto

uma máquina de costura costura
e eu sobre a gelada mesa de
dissecação durmo. Pombas se
acidentam na janela.

estou vivo.

Josué Ralo

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