terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Livre


Foi assim que começou a sentir o espaço à sua volta, alargado, imenso, onde não mais se mexia – dançava. Subia e descia dos ônibus ainda com destreza inesperada, quase como uma bailarina. Ia de lá pra cá, de cá pra lá, por ali, acolá. Em todas as paradas podia fazer baldeações, vadiar, conhecer o último beco que tinha visto passar rapidamente pela janela – agora mais que nunca – como uma arte maior – saltar e ir revelando a cidade que agora lhe pertencia.

Dona de si, dona da cidade, dona de seu cartão de gratuidade, flanava.

Esse domínio de ir e vir lhe chegou com aquilo que chamam de – idade. Sessenta e cinco anos estipularam sua velhice e pularam todo esse prazer inesperado de caminhar, de conhecer, de bailar por esses velhos novos caminhos desenhados agora pelo frescor desse aniversário. Afinal adquirira esse direito. E inesperadamente sua liberdade. Descobriu que o viver era gratuito!

Rosália Milsztajn

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