Foi assim que começou a sentir o
espaço à sua volta, alargado, imenso, onde não mais se mexia – dançava. Subia e
descia dos ônibus ainda com destreza inesperada, quase como uma bailarina. Ia
de lá pra cá, de cá pra lá, por ali, acolá. Em todas as paradas podia fazer
baldeações, vadiar, conhecer o último beco que tinha visto passar rapidamente
pela janela – agora mais que nunca – como uma arte maior – saltar e ir revelando
a cidade que agora lhe pertencia.
Dona de si, dona da cidade, dona
de seu cartão de gratuidade, flanava.
Esse domínio de ir e vir lhe
chegou com aquilo que chamam de – idade. Sessenta e cinco anos estipularam sua
velhice e pularam todo esse prazer inesperado de caminhar, de conhecer, de
bailar por esses velhos novos caminhos desenhados agora pelo frescor desse
aniversário. Afinal adquirira esse direito. E inesperadamente sua liberdade.
Descobriu que o viver era gratuito!
Rosália Milsztajn
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