lua minguante,
peito fechado sem cor.
para além dos idos de março
chega abril
e com ele a ganância de regan e goneril.
lua cheia,
peito aberto, cor rubra.
para além da palavra
que não se alcança
e da noite que não se vela,
deixa-me recostar no seio
brando de cordélia.
convocada a falar
não pode, no entanto,
o que bem entende.
somente ao que o dragão,
velho e quase insano, contente.
um terço do reino
seu pai lhe deseja ofertar
em troca de palavras graciosas
que se diluam no ar.
mas como levar à boca o coração?
o verbo se cala
e prêmio não há.
o velho tolo arranca de si
a mais bela flor de seu jardim
cabe à natureza se rebelar.
lua nova,
peito desperto.
viagem para além dos pontos cardeais.
depois do arrependimento
na cela engradeada.
o assassinato feito pelo soldado de palavra.
vivência desfeita daquela que era,
entre todas, a mais bela.
quando a chuva parar,
deixa-me navegar
na cordialidade do
peito aberto de cordélia.
a corda cala cordélia.
de voz suave e vagarosa o coração
agora já não se pode escutar.
“ao peso desta hora triste
devemos nos curvar.
dizer o que sentimos, não
o que queremos falar.
mais do que nós jovens, coube ao
velho sofrer.
nunca teremos tanto, nem tanto
iremos viver”.
William Soares dos Santos
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