sexta-feira, 8 de abril de 2011
Dentaduras na vitrine
A velha cozinheira já colocou a comida na mesa;
Quase tão enrugada como ela;
Apoiada em sua bengala, vem mostrar
A esfera de labaredas, refletida no vidro
Do casarão.
— Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de
Mostarda, lambendo a minha torta de
Alcachofra!
Assim diz a caduca.
A dentadura cai e mostra aqueles
Jardins poderosos(agora inflamados).
Viraram cinzas.
Não sinto meu corpo como sentia quando
Assistia os céus psicodélicos de sábado;
As flores não caem mais no meu peito;
Se caem estão murchas.
A voz calou-se padecendo nas notas que
Valem uma vida inteira; voam pelas quatro
Estações débeis sem as asas que tocavam a
Lira esculpida nas claves dos venturosos
Filhos nativos nutridos de luares ínfimos
Que em frenesi nos arrebatavam.
Apenas mímicas perturbadas com efetivas
Bofetadas no pulso tombado e tolhido
Que não sangra. Apodrece!
E vai transformando-se em pó para ser
Levado para túmulos frígidos que
Servirão de palanque para ratos.
Fragmentos de intensidades excomungadas circulando
No meio-fio das pontes tatuadas por perucas
Amalucadas. Escorregaram nos fungos
Zangados, raivosos, não suportaram os
Traços dos arco-íris que saiam dos
Amplificadores embutidos em nossas artérias.
Ave que anda sobre as telhas, tu
Vens toda lânguida manhã enfrentar-nos
Com feitio bravio de pudores de um mundo
Que destila vinagre em penicos, para
Bebermos e depois pagarmos mais uma dose.
— Adoro aqueles mosquitos que têm cheiro de
Mostarda, lambendo a minha torta de
Alcachofra!
Assim diz as dentaduras colocadas na
Vitrine, aguardando sedentas os sedentários
Zumbis;
E elas riem das mímicas que fazemos
Nos túmulos frígidos.
Nada sangra, só apodrece!
André Siqueira
André Siqueira é nosso leitor de São Paulo.
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